Há 60 anos, mais concretamente a 16 de julho de 1964, era inaugurada a Biblioteca Municipal de Santa Cruz, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian. Era a segunda biblioteca fixa a ser criada na Madeira, logo a seguir à que foi instalada no Funchal. Ostentava, então, o número 73 das Bibliotecas Gulbenkian.
60 anos são uma data a assinalar, e quisemos fazê-lo com esta exposição/homenagem aos livros, às histórias, e às bibliotecas.
Para tal, não só apresentamos uma seleção dos primeiros livros do acervo desta biblioteca, mas também um conjunto de livros que falam de livros, de bibliotecas, e que se inspiram nessa realidade mágica que é a ficção que expande o nosso mundo, que explica o que nele existe e que imagina o que nele não consta, alargando assim o universo para lá dos seus e dos nossos limites físicos.
O título desta exposição vai buscar inspiração a Jorge Luís Borges, que em vida foi também bibliotecário, quando escreve “O universo, a que outros chamam biblioteca”, início do texto do conto ‘A Biblioteca de Babel’.
Neste texto, Borges reclama que as bibliotecas existem ab aeterno e que nessa condição reside “a eternidade futura do mundo”.
Eternas e infinitas, as bibliotecas são, para Borges, lugares mágicos “e as suas estantes registam todas as possíveis combinações dos vinte e tal símbolos ortográficos, ou seja, tudo o que nos é dado exprimir; em todos os idiomas. Tudo: a história minuciosa do futuro, as autobiografias dos arcanjos, o catálogo fiel da biblioteca, milhares e milhares de catálogos falsos, a demonstração da falácia desses catálogos (…) Ou seja, “não há “problema pessoal ou mundial cuja eloquente solução” não exista na biblioteca.
Borges diz mesmo que, nas suas dinâmicas internas, as bibliotecas hão de sobreviver à nossa espécie e à sua humana condição, porque “a biblioteca perdurará: iluminada, solitária, infinita, perfeitamente imóvel, armada de volumes preciosos, incorruptível, secreta.” E, nesta possibilidade de infinito, “a minha solidão alegra-se com esta elegante esperança”.
Nestes 60 anos, queremos assinalar esse lugar mágico que é também esta biblioteca de frente para o mar. E, tal como narra o texto de Valter Hugo Mãe impresso nestas paredes, desejar que por muitas mais décadas esta biblioteca continue a ser um lugar de chegar e partir e que continue a cultivar a ideia de que “ler é esperar por melhor”.
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