- Detalhes
A Quinta do Revoredo foi mandada construir, em 1840, pelo empreendedor comerciante inglês de vinho Madeira John Blandy, para sua residência marítima de Verão, perto das terras que ele arrematara, um ano antes, à Fazenda Pública provenientes do extinto Convento de Nossa Senhora da Piedade de Santa Cruz. O nome adotado deve-se ao imenso coberto arbóreo que os jardins da casa possuíam.
Nesta casa acabou por se fixar o seu neto Charles Frederick Raleigh Blandy, que tinha especial predileção por esta vila. Nasceu no Funchal, em 1846, tendo seguido a carreira de engenheiro e efectuado o seu estágio em Glasgow (Escócia). Em 1903 ofereceu um relógio à Câmara Municipal de Santa Cruz que foi colocado na torre da Igreja Matriz e, juntamente com a madre inglesa Mary Jane Wilson, ajudou a recuperar o hospital da Santa Casa da Misericórdia de Santa Cruz. Foi benemérito e protetor de inúmeras famílias do concelho. Nos últimos dez anos da sua vida dedicou-se à pintura em aguarela de paisagem da Madeira, em finais do séc. XIX e princípios do séc. XX, dentro do gosto do naturalismo da época. Atualmente, estas pinturas encontram-se no Museu de História Natural do Funchal.
Num espaço anexo à Quinta, hoje ocupado pela Biblioteca Municipal, funcionava o seu atelier de pintura e de fotografia. No extremo poente do jardim situa-se a antiga casa dos caseiros, hoje adulterada e desanexada da propriedade.
O imóvel foi adquirido, restaurado e adaptado pela edilidade, em 1988, para servir de Casa da Cultura, sendo inaugurada no dia 6 de Dezembro de 1993. Apresenta amplas salas de exposição, cozinha, Sala de Documentação, salas de Serviços Educativos e, no tardoz, foi construído um aprazível auditório ao ar livre junto ao mar.
O edifício, construído em alvenaria de pedra rebocada, apresenta dois pisos e uma pequena torre avista-navios. Todos os vãos exibem simples molduras em cantaria rija regional e as janelas possuem os característicos tapa-sóis madeirenses com vidraças de guilhotina. O chão e a escada são em madeira de casquinha original e os tetos apresentam desenhos em estuque ao gosto da época. Uma das salas possui, inclusive, uma lareira ao gosto inglês. Nas fachadas oeste e norte podem ver-se cachorros, indicação de que possuía um alpendre em madeira, coberto de telha, ou uma latada para trepadeiras.
Antigamente o acesso à casa fazia-se também pela porta virada ao mar onde havia um pequeno cais de desembarque.
O aprazível jardim é calcetado no tradicional empedrado em calhau rolado do mar, e possui centenárias árvores endémicas como dragoeiros (Dracaena draco) e tis (Ocotea foetens), de entre inúmeras plantas indígenas e exóticas. Nele podemos encontrar duas esculturas: a ‘Florista’, do escultor peruano radicado no Brasil Mário Agostinelli, em bronze de 1972, que outrora se encontrava no demolido Hotel Atlantis Madeira, e uma escultura, em duas tonalidades de cantaria, do escultor António Rodrigues, datada de 1997.
No jardim também podemos encontrar os vestígios arqueológicos pertencentes às ruinas do Convento Franciscano de Nossa Senhora da Piedade, resultante das pioneiras escavações arqueológicas de emergência levadas a cabo pelo Dr. António Aragão, em 1961, antes do seu desaparecimento, em virtude da construção do aeroporto da Madeira. O Mosteiro, que se situava nas imediações da atual cabeceira oeste da pista do aeroporto, foi fundado em 1518 pelo abastado produtor e mercador açucareiro italiano Urbano Lomelino, que se estabeleceu em Santa Cruz em finais do Séc. XV. O Convento ficou concluído em 1527. Com a extinção das ordens religiosas, em 1834, o referido convento foi paulatinamente entrando em ruína, sendo muito do seu precioso espólio distribuído pelas igrejas vizinhas de Santa Cruz: Água de Pena e Santo António da Serra. Hoje, algumas dessas peças guardam-se no precioso Museu de Arte Sacra do Funchal, das quais se destaca o tríptico da Descida da Cruz, datado de cerca de 1518-1527, uma pintura flamenga atribuída a Gerard David que pertenceu ao altar-mor da capela do mosteiro. Inicialmente as ruínas foram depositadas no jardim do Museu da Quinta das Cruzes, edifício este que, por coincidência, foi também residência dos padroeiros do Convento e onde, atualmente, se encontra o túmulo do fundador embutido na parede da capela, transladado do referido convento.
Em 1996, os fragmentos do mosteiro foram transferidos para os jardins da Casa da Cultura de Santa Cruz. Alguns destes despojos foram, recentemente, remontados conjunturalmente a oeste deste jardim. Podemos observar pedras em cantaria regional cinzenta e vermelha, de gramática tardo-gótica / manuelina, que componham portais em ogiva, janelas, arcos quebrados, etc., de fina execução, entre bases, colunelos, capitéis, arquivoltas, entre outros.
Missão
Enquanto espaço cultural a Casa da Cultura de Santa Cruz, Quinta do Revoredo, tem como missão promover uma oferta cultural contemporânea e histórica diversificada e valorizadora do panorama artístico e cultural local e regional, capaz de promover a cidadania, a participação e criando qualidade dos seus públicos críticos e fruídores sensibilizando os cidadãos para os valores patrimoniais e culturais e dando a conhecer as diferentes vertentes da cultura vernácula e erudita do concelho e da região.
Objetivos
- Promover o acesso da população à produção artística de qualidade;
- Construir-se como um espaço de aprendizagem para os diversos públicos;
- Promover a cidadania, oferecendo um espaço de expressão para a valorização da cultura local e regional;
- Divulgar o património imóvel e móvel do concelho e da ilha enquanto fonte de memória colectiva e instrumento de estudo histórico e científico.
- Parcerias com outras instituições culturais da ilha como forma de divulgar e aproximar o público das diferentes formas de expressão artística e dos bens culturais.
- Intervenção descentralizadora no domínio da cultura.
- Apoio a iniciativas que visem a salvaguarda, valorização e defesa do património cultural.
- Divulgar e dar a conhecer a História Regional e Local.