- Detalhes
Edifício da Câmara Municipal de Santa Cruz
O edifício manuelino dos Paços do Concelho foi adquirido por João de Freitas a um fidalgo cavaleiro para aí ser instalado, logo em 1516, as dependências administrativas da nova vila, fundada um ano antes por D. Manuel I, por influência do referido João de Freitas, que era escudeiro do rei e cobrador da Fazenda Pública.
O imóvel deve ter sofrido melhorias, nomeadamente o aumento de um andar sobradado, devendo datar dessa altura a porta em arco quebrado, de dois colunelos e duas arquivoltas, rematado pelas armas reais de D. Manuel, assim como as janelas maineladas, de apenas um só colunelo e uma arquivolta devendo, provavelmente, os mainéis datarem dos anos 70 do séc. XX.
O resto do corpo nascente dos Paços do Concelho, adossado ao anterior, é já uma ampliação dos anos 70 do séc. XX, de autoria do arquiteto Luís da Conceição Teixeira e que se filia na linguagem moderno-fascista dos edifícios de representação do Estado Novo. Corpo austero, onde sobressai o revestimento de alguns panos em cantaria cinzenta regional, destacando-se a varanda de balanço de aparato com balaustrada, tudo no mesmo material de cantaria rija. O edifício foi inaugurado a 2 de Novembro de 1977.
No interior, é de destacar no primeiro patamar da escada, uma pintura alusiva às atividades económicas e culturais do Concelho de autoria de Teresa Brazão (anos 80), o tecto em masseira do Salão Nobre e a heráldica régia manuelina, que outrora estava colocada no centro do teto. Neste Salão encontra-se mobiliário histórico que outrora pertencia ao Gabinete do Presidente da Câmara de Santa Cruz, Dr. Joaquim Vasconcelos Gouveia, adquirido em 1932 aquando da inauguração do novo edifício da Câmara Municipal de Santa Cruz, hoje Tribunal Judicial da Comarca de Santa Cruz.
De referir que, em 1928, os velhos Paços do Concelho sofreram um violento incêndio, causado por uma ignição que se deu no edifício contíguo que era um armazém de pipas de aguardente, perdendo-se toda a preciosa documentação camarária que nos dias de hoje seria imprescindível para se poder completar a História do Município.
Como dos antigos Paços do Concelho nada restou após o grave incidente, o presidente, provavelmente, adquiriu este novo mobiliário de escritório para o seu gabinete no novo edifício da câmara. As peças que chegaram aos nossos dias datam dos finais do Séc. XIX e princípios do Séc. XX, em talha de madeira de castanho enegrecida (pau preto), apresentando colunas torças e ferragens e puxadores em latão recortado e vazado. As estantes são tripartidas com alto embasamento e alta cornija em diversas secções, apresentando vidros em dois terços das portas. Tanto as estantes como a secretária possuem nas suas faces altas almofadas em losangos.
Fazendo parte deste mesmo conjunto encontram-se cadeiras em pau preto, com torcidos e tremidos, apresentando assento e espaldar em couro lavrado com motivos vegetalistas e puttis.
Este mobiliário, de estilo neo-barroco, aparatoso, estava muito em voga nos finais do século XIX e princípios do seguinte, sendo especialmente escolhido para equipar os edifícios públicos de representação.
Em contraponto encontra-se, neste Salão Nobre, uma pintura contemporânea de uma cadeira de vimes, de autoria do artista António Rodrigues, baseada numa gravura retirada do catálogo da fábrica A. F. Nóbrega & Filho, situada na Camacha, de 1925. Esta pintura fez parte de uma exposição iconográfica sobre a obra de vimes do princípio do séc. XX, que esteve patente, no verão de 2000, na Casa da Cultura de Santa Cruz | Quinta do Revoredo.
O outro conjunto de mobiliário histórico, que actualmente se encontra do Gabinete do Sr. Presidente da Câmara Municipal de Santa Cruz, foi adquirido pelo Sr. Presidente Manuel Paulo Gomes de Jesus, em 1977, para o seu gabinete, aquando da inauguração da ampliação e reabilitação dos velhos e primitivos Paços do Concelho.
O mobiliário, constituído por um armário-estante, uma secretária e uma cadeira, são em mogno castanho escuro. Curioso é que a esta tipologia comum se mandou acrescentar o brasão de Portugal, do rei D. Manuel I, com a data da criação do município, 1515, que encima o espaldar da estante. A cadeira de madeira com as costas em couro lavrado apresenta a mesmas armas de Portugal com a data da fundação do município.
Todo o mobiliário, quer do Gabinete do Presidente quer do Salão Nobre, que se encontrava disperso, foi reunido e recuperado pela Câmara na Presidência do Sr. Filipe Martiniano Martins de Sousa, em 2019.
Por ser dos poucos edifícios manuelinos civis onde, desde a sua fundação funciona a edilidade, foi classificado como Monumento Nacional em 1946, sendo o único com este estatuto fora da cidade do Funchal.